Olá, há mais de uma ano que não postava aqui nada... Já andava para cá vir à uns dias, mas hoje resolvi-me!
Vou aqui deixar mais um excerto de uma das minhas peças, já foi escrita talvez no ano 2000, fui buscar inspiração para escreve-la no filme e livro "Casda dos Espíritos" de Isabel Allende e também a algumas situações um pouco mais pessoais.
Conta a história em primeira mão (a narradora é presente) de uma jovem que perdeu toda a familia, mas que a história dessa sua família está envolvida num segredo que aos poucos vai ser desvendado.
A peça é passada entre vários flashbacks, entre os anos 60, os anos 20 e o final do séc XIV.
Fala de um tema controverso, que é a vida para além da morte... sim, não é um tema muito habitual para se retratar, mas é o que é!
Aqui fica um excerto:
"(...) Estava a ler para me manter calma, estava num tal estado de ansiedade.
A todo o momento esperava que Frank entrasse pela sala dentro.
Tinha tantas saudades dele...
De repente começo a sentir perto do meu pescoço uma brisa, um sopro fresco que não sabia de onde vinha. Senti a espinha a arrepiar-se, voltei-me intrigada... e nada, ninguém, nem uma janela aberta.
Continuei a ler, eu bem tentava manter-me concentrada, mas existia algo naquela sala que teimava em desconcentrar-me. Voltei a sentir a brisa...
(De repente ouve-se um murmúrio):
Peter- Lisy, anda brincar comigo. Vamos brincar às escondidas.
(Lisy larga o livro, levanta-se e pergunta):
Lisy- Quem está ai?
(Silêncio)
Quem é que está a falar comigo?
(Peter ri-se e responde-lhe):
Peter- Lisy, sou eu. Já não te recordas de mim?
(Lisy mostra-se intrigada, mas volta a sentar-se e abre o livro de novo. Pouco tempo depois entra Frank e dirige-se às costas da Chaise Long e acaricia os cabelos de Lisy. Ela responde):
Lisy- Não, não conheço a tua voz, talvez se tu me quiseres ajudar eu me consiga lembrar.
Frank- Então não me conheces? Muito bem.
Então acho que me posso ir embora. Adeus.
Lisy- Frank, meu querido. Tenho tantas saudades tuas.
Frank- Então em que ficamos? Afinal conheces-me ou nem por isso?
Lisy- Não ligues, estava só a falar alto.
E abraçamo-nos. O meu coração batia tão forte, que parecia querer sair do peito. Que emoção voltar a tê-lo perto de mim. Era difícil admiti-lo, mas gostava mesmo dele. Ouvir a sua voz era como música para o meu coração.
Frank- Então Lisy, conta-me as novidades!
Lisy- As novidades já são velhas, não há nada de novo.
E Londres, como está a cidade da pasmaceira?
Frank- Não digas isso? Não sejas injusta.
Lisy- Eu, injusta? Eu não sou injusta, é o que sinto.
Aquelas pessoas fazem-me impressão, são tão hipócritas, só olham para o próprio umbigo, só se preocupam com o seu bem - estar, tudo o resto à volta é como se não existisse.
Frank- Muito bem. Então, se eu também estou incluído nesse rol dos hipócritas e egoístas, não sei o que estou a fazer aqui.
Lisy- Não Frank, tu sabes que não estou a falar de ti. Não me interpretes mal, tu não és assim.
Frank- Se tu o dizes, fico muito mais descansado. Sabe mesmo bem voltar ao campo, o ar que se respira é outro.
Eu olhava para Frank. Deu-me uma vontade de lhe dizer o quanto gostava dele, o quanto morria de ciúmes só de pensar em todas aquelas meninas coquetes que andavam de volta dele. Mas tinha medo de o perder, preferia usufruir da sua companhia.
Frank- O que se passa? Estás a olhar para mim? Tenho alguma nódoa no casaco?
Lisy- Não, não tens nada. Estava só a olhar para ti, há tanto tempo que não faço isso. Gosto muito de te olhar.
Frank- Estás a deixar-me sem jeito. Estás cada dia mais bonita, os teus olhos cada vez brilham mais.
Lisy- É de felicidade. Apesar da companhia da Nanny e do Olivier, sinto-me muito sozinha... sinto falta de conversar contigo.
Passávamos tantas horas na conversa... estou aqui há um mês e para falar com alguém, quase que tenho de forçar a Nanny a sentar-se ao pé de mim, se não fosse assim, falaria apenas com as paredes.
Frank- Minha querida... não te quiseste afastar de tudo? O preço por querermos ser diferentes paga-se caro...
Lisy- Não vamos falar disso agora, conta-me como vai o teu trabalho?
Frank- Nesta altura do ano pouco há para fazer, as pessoas vêm todas para o campo passar férias, tenho o consultório às moscas...
Lisy- É normal, não há ninguém que não esteja saturado da vida que leva naquela cidade. Mas nem tudo é mau, pelo menos pudeste tirar umas férias e eu usufruo da tua companhia.
Frank- E os teus sonhos? Continuas a tê-los?
Lisy- Oh Frank eu bem tento não pensar em tal coisa, mas não consigo. Agora já não são só sonhos, ainda há pouco antes de chegares, comecei a ouvir a voz de uma criança a pedir para eu ir brincar com ela. Eu vou dar em doída com isto...
Frank- Tem calma, não penses assim, para tudo existe uma explicação.
Lisy- Não sei... acho que começo a duvidar dessas explicações.
Eu sei que tu és médico, mas acho que não me consegues convencer.
Frank- Tens de confiar mais em ti Lisy. Se não te convenceres que vais encontrar uma solução para esta questão, vais continuar a atormentar-te, quando o intuito deste retiro seria encontrares-te a ti própria.
(Por momentos fica-se em silêncio e Frank reflecte sobre o que disse):
Desculpa-me Lisy, não queria ser bruto contigo, acho que estou cansado da viagem. Vou até ao quarto, tomar um banho e mudar de roupa, desço para jantar. Não ficas aborrecida que te deixe sozinha, pois não?
Lisy- Não, vai descansar. Eu fico bem não te preocupes...
(Frank sai de cena. Lisy fica sozinha. Apesar de inquieta começa a ler. Após um breve momento, olha o infinito e diz):
Porquê? Porquê eu? Eu só queria viver a minha vida tranquilamente, mais nada. Será que é pedir muito?
(Ouve-se a voz de Peter num tom brincalhão imitando Frank):
Peter- “Tens de ter calma, tens de confiar mais em ti Lisy”.
Pois é, tens de confiar mais em ti...
(Lisy dá um salto da Chaise Long):
Lisy- Outra vez? Mas afinal quem és tu?
(Peter entra em palco e vai sentar-se ao lado de Lisy)
Peter- Eu? Queres mesmo saber?
É normal que não te recordes de mim. Quando eu morri, ainda eras tão pequenina...
(Baixando a cabeça envergonhado)
Eu tinha tantos ciúmes de ti. Deus castigou-me.
Lisy- (Perplexa) Pequenina? Tinhas ciúmes?
Peter- Tinha mana, tinha ciúmes porque a mãe dava-te mais atenção do que a mim. Depois comecei a não comer, a não brincar e depois...
Deus castigou-me, levou-me com ele quando tu tinhas um ano.
Lisy- Então quer dizer que tu... tu és meu irmão?
Mas como, se nunca ninguém me disse que eu tive irmãos?
Peter- Pois, pergunta à Nanny, pode ser que ela consiga responder.
Lisy- A Nanny... Tu por acaso sabes quem são as outras pessoas dos meus sonhos?
Peter- Não me faças mais perguntas, agora que sabes quem eu sou, tenta tu também arranjares soluções para o teu quebra-cabeças.
(Peter sai da sala, Lisy começa a andar de um lado para o outro impaciente e chama Nanny) "
Vou aqui deixar mais um excerto de uma das minhas peças, já foi escrita talvez no ano 2000, fui buscar inspiração para escreve-la no filme e livro "Casda dos Espíritos" de Isabel Allende e também a algumas situações um pouco mais pessoais.
Conta a história em primeira mão (a narradora é presente) de uma jovem que perdeu toda a familia, mas que a história dessa sua família está envolvida num segredo que aos poucos vai ser desvendado.
A peça é passada entre vários flashbacks, entre os anos 60, os anos 20 e o final do séc XIV.
Fala de um tema controverso, que é a vida para além da morte... sim, não é um tema muito habitual para se retratar, mas é o que é!
Aqui fica um excerto:
"(...) Estava a ler para me manter calma, estava num tal estado de ansiedade.
A todo o momento esperava que Frank entrasse pela sala dentro.
Tinha tantas saudades dele...
De repente começo a sentir perto do meu pescoço uma brisa, um sopro fresco que não sabia de onde vinha. Senti a espinha a arrepiar-se, voltei-me intrigada... e nada, ninguém, nem uma janela aberta.
Continuei a ler, eu bem tentava manter-me concentrada, mas existia algo naquela sala que teimava em desconcentrar-me. Voltei a sentir a brisa...
(De repente ouve-se um murmúrio):
Peter- Lisy, anda brincar comigo. Vamos brincar às escondidas.
(Lisy larga o livro, levanta-se e pergunta):
Lisy- Quem está ai?
(Silêncio)
Quem é que está a falar comigo?
(Peter ri-se e responde-lhe):
Peter- Lisy, sou eu. Já não te recordas de mim?
(Lisy mostra-se intrigada, mas volta a sentar-se e abre o livro de novo. Pouco tempo depois entra Frank e dirige-se às costas da Chaise Long e acaricia os cabelos de Lisy. Ela responde):
Lisy- Não, não conheço a tua voz, talvez se tu me quiseres ajudar eu me consiga lembrar.
Frank- Então não me conheces? Muito bem.
Então acho que me posso ir embora. Adeus.
Lisy- Frank, meu querido. Tenho tantas saudades tuas.
Frank- Então em que ficamos? Afinal conheces-me ou nem por isso?
Lisy- Não ligues, estava só a falar alto.
E abraçamo-nos. O meu coração batia tão forte, que parecia querer sair do peito. Que emoção voltar a tê-lo perto de mim. Era difícil admiti-lo, mas gostava mesmo dele. Ouvir a sua voz era como música para o meu coração.
Frank- Então Lisy, conta-me as novidades!
Lisy- As novidades já são velhas, não há nada de novo.
E Londres, como está a cidade da pasmaceira?
Frank- Não digas isso? Não sejas injusta.
Lisy- Eu, injusta? Eu não sou injusta, é o que sinto.
Aquelas pessoas fazem-me impressão, são tão hipócritas, só olham para o próprio umbigo, só se preocupam com o seu bem - estar, tudo o resto à volta é como se não existisse.
Frank- Muito bem. Então, se eu também estou incluído nesse rol dos hipócritas e egoístas, não sei o que estou a fazer aqui.
Lisy- Não Frank, tu sabes que não estou a falar de ti. Não me interpretes mal, tu não és assim.
Frank- Se tu o dizes, fico muito mais descansado. Sabe mesmo bem voltar ao campo, o ar que se respira é outro.
Eu olhava para Frank. Deu-me uma vontade de lhe dizer o quanto gostava dele, o quanto morria de ciúmes só de pensar em todas aquelas meninas coquetes que andavam de volta dele. Mas tinha medo de o perder, preferia usufruir da sua companhia.
Frank- O que se passa? Estás a olhar para mim? Tenho alguma nódoa no casaco?
Lisy- Não, não tens nada. Estava só a olhar para ti, há tanto tempo que não faço isso. Gosto muito de te olhar.
Frank- Estás a deixar-me sem jeito. Estás cada dia mais bonita, os teus olhos cada vez brilham mais.
Lisy- É de felicidade. Apesar da companhia da Nanny e do Olivier, sinto-me muito sozinha... sinto falta de conversar contigo.
Passávamos tantas horas na conversa... estou aqui há um mês e para falar com alguém, quase que tenho de forçar a Nanny a sentar-se ao pé de mim, se não fosse assim, falaria apenas com as paredes.
Frank- Minha querida... não te quiseste afastar de tudo? O preço por querermos ser diferentes paga-se caro...
Lisy- Não vamos falar disso agora, conta-me como vai o teu trabalho?
Frank- Nesta altura do ano pouco há para fazer, as pessoas vêm todas para o campo passar férias, tenho o consultório às moscas...
Lisy- É normal, não há ninguém que não esteja saturado da vida que leva naquela cidade. Mas nem tudo é mau, pelo menos pudeste tirar umas férias e eu usufruo da tua companhia.
Frank- E os teus sonhos? Continuas a tê-los?
Lisy- Oh Frank eu bem tento não pensar em tal coisa, mas não consigo. Agora já não são só sonhos, ainda há pouco antes de chegares, comecei a ouvir a voz de uma criança a pedir para eu ir brincar com ela. Eu vou dar em doída com isto...
Frank- Tem calma, não penses assim, para tudo existe uma explicação.
Lisy- Não sei... acho que começo a duvidar dessas explicações.
Eu sei que tu és médico, mas acho que não me consegues convencer.
Frank- Tens de confiar mais em ti Lisy. Se não te convenceres que vais encontrar uma solução para esta questão, vais continuar a atormentar-te, quando o intuito deste retiro seria encontrares-te a ti própria.
(Por momentos fica-se em silêncio e Frank reflecte sobre o que disse):
Desculpa-me Lisy, não queria ser bruto contigo, acho que estou cansado da viagem. Vou até ao quarto, tomar um banho e mudar de roupa, desço para jantar. Não ficas aborrecida que te deixe sozinha, pois não?
Lisy- Não, vai descansar. Eu fico bem não te preocupes...
(Frank sai de cena. Lisy fica sozinha. Apesar de inquieta começa a ler. Após um breve momento, olha o infinito e diz):
Porquê? Porquê eu? Eu só queria viver a minha vida tranquilamente, mais nada. Será que é pedir muito?
(Ouve-se a voz de Peter num tom brincalhão imitando Frank):
Peter- “Tens de ter calma, tens de confiar mais em ti Lisy”.
Pois é, tens de confiar mais em ti...
(Lisy dá um salto da Chaise Long):
Lisy- Outra vez? Mas afinal quem és tu?
(Peter entra em palco e vai sentar-se ao lado de Lisy)
Peter- Eu? Queres mesmo saber?
É normal que não te recordes de mim. Quando eu morri, ainda eras tão pequenina...
(Baixando a cabeça envergonhado)
Eu tinha tantos ciúmes de ti. Deus castigou-me.
Lisy- (Perplexa) Pequenina? Tinhas ciúmes?
Peter- Tinha mana, tinha ciúmes porque a mãe dava-te mais atenção do que a mim. Depois comecei a não comer, a não brincar e depois...
Deus castigou-me, levou-me com ele quando tu tinhas um ano.
Lisy- Então quer dizer que tu... tu és meu irmão?
Mas como, se nunca ninguém me disse que eu tive irmãos?
Peter- Pois, pergunta à Nanny, pode ser que ela consiga responder.
Lisy- A Nanny... Tu por acaso sabes quem são as outras pessoas dos meus sonhos?
Peter- Não me faças mais perguntas, agora que sabes quem eu sou, tenta tu também arranjares soluções para o teu quebra-cabeças.
(Peter sai da sala, Lisy começa a andar de um lado para o outro impaciente e chama Nanny) "
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