- O Teatro entrou na tua vida por acaso, ou era um sonho que tinhas?
Pode dizer-se que começou por acaso e transformou-se em sonho. O Teatro anunciou-se na Escola Primária, em S. João da Madeira. Tal como aos meus colegas, a professora atribuía-me uma personagem e eu cumpria o pedido. Nessa fase, eu gostava mais de dançar e cantar. Já na Peparatória, em Santa Maria da Feira, ingressei na Dança, como actividade extra-curricular, e através da qual participava nos espectáculos que a escola preparava. No 6º ano, na peça de fim de ano lectivo, para além de dançar, também me desafiaram para fazer teatro. E eu não disse que não. Dançar e representar: “Eureka”! Mais tarde, por altura do 9º ano e pela quase que “obrigatoriedade” de escolher uma profissão e uma área para o futuro, o que descobri em mim foi o mundo do espectáculo. Queria poder representar e cantar e dançar como forma de vida. E aí sim, nasceu o Sonho!
- Para além da experiência de Teatro Amador, também pisaste pelo menos uma vez um palco com profissionais, as diferenças são muitas?
Considero-me uma privilegiada por já ter experimentado o teatro amador, o universitário e o profissional. Naturalmente há diferenças, mas nem vou referir as possibilidades orçamentais que uns poderão ter e os outros não. Neste caso, o dinheiro não é tudo e não serve de desculpa para o que se pode ou não construir. Penso que a questão primordial (e sublinho que é uma reflexão muito pessoal) é que no teatro profissional, estamos lado a lado com pessoas com formação teatral, com muita bagagem e que nunca dão por terminada a sua aprendizagem. Pessoas que querem evoluir constantemente. Pessoas que vêem o trabalho que outros colegas em outras companhias fazem. E pessoas que sabem que cada pessoa que está na plateia pagou um bilhete para ver um espectáculo e que, por isso, merece que cada actor, cada técnico dê o seu melhor. E é o que infelizmente não se encontra em alguns grupos de teatro amador. Para mim, profissionalismo não se aplica apenas aos profissionais.
- O que procuras no Teatro, ser o que nunca foste, ou aplicar algo de ti nas tuas personagens?
O Teatro é uma forma de ser o que não sou, nunca fui e que provavelmente nunca serei. E o ideal é que as minhas personagens tenham muito pouco de mim. Quanto mais conseguir afastar-me de mim, melhor será a minha interpretação! É isso que, para mim, é ser actor ou actriz.
- Fizeste alguma personagem que te tenha marcado mais profundamente, que tenha sido difícil o desapego a ela?
Tenho de referir a personagem que abracei durante cerca de três meses (e mais um mês e pouco de ensaios), cinco dias por semana, no Teatro da Trindade, em Lisboa. Eu era uma das guerreiras lusitanas da peça “Viriato”, encenada por Jorge Fraga e escrita por Diogo Freitas do Amaral. Foi muito intensa, não tanto a personagem, mas toda a experiência e o trabalho de grupo. E foi tão difícil separar-me dela! No último espectáculo, no momento dos aplausos, as lágrimas apoderaram-se de mim. E isso só me aconteceu nessa vez! Os dias posteriores, já sem correr para o Trindade, foram como que vazios e tristes. Portanto, isto tem de significar alguma coisa...
- Que tipo de Teatro não gostas? Porquê?
Não posso falar de um tipo específico de teatro. Não gosto do teatro que é oco e que não me emociona. E emocionar tem tanto de rir como de arrepiar. Não gosto do teatro que é, como costumo dizer, “só plumas e lantejoulas” e que depois não tem conteúdo. E não tenho nada contra as plumas e lantejoulas, até gosto muito, mas o espectáculo tem de ser e ter mais do que isso.
- O que gostarias de voltar a ser em palco?
Prefiro pensar no que ainda não fui em palco. Há tudo por fazer e experimentar!
- Uma mensagem para este Dia Mundial do Teatro.
Aproveito o Dia Mundial do Teatro para deixar uma mensagem para quem faz teatro, principalmente amador: tenham vontade de fazer mais, de evoluir, de ver mais teatro, de apostar na formação, de ler muito, de experimentar vários estilos e textos e autores. E claro, é preciso reflectir sobre o teatro. Porque ele é muito mais do que um passatempo que serve para mostrar aos amigos e à família que se sabe fazer uma ou outra coisa engraçada. E mais: sejam (auto-)críticos e humildes.
E aproveito também para deixar uma mensagem para os possíveis públicos: desafiem-se a ir ao teatro. “Não negue à partida uma ciência que desconhece!” É curioso ouvir pessoas comentarem que não gostam de teatro, mas logo a seguir dizem que nunca foram ver uma peça. E não digam que o teatro é caro. Há teatros (profissionais) onde é possível assistir a uma peça por 5, 6, 7 euros. Não é um luxo, pois não?
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