O excerto do texto que aqui deixo faz parte da peça "Vida ao quadrado" e conta a história de quatro mulheres cada uma com problemas diferentes.
A personagem principal (presa 1), é uma adolescente (mãe solteira), toxicodependente, presa por acusação de homicidio e com problemas de esquizofrenia (relacionadas com o consumo de droga).
A Guarda prisonal é uma mulher amargurada pela perca da filha, de ressentimentos guardados e algo bruta.
A presa 2 é uma mulher paranoica com a sua condiçaõ de prisioneira, quer controlar tudo e todos.
A advogada é meia-irmã da personagem presa 1, apesar de ser advogda de defesa faz de tudo para arruinar a vida da irmã, a mando do pai.
Esta peça retrata algumas situações bastante reais, como a inveja, a toxicodependência, a gravidez na adolescência, entre outras situações.
"Presa 1 – Estive a sonhar com o sol, com as nuvens, elas pareciam algodão doce. Vi-te correr para mim, tinhas tantos caracóis... e eu afagava-te o cabelo. Tu sorrias, depois fugiste e eu corri atrás de ti, mas já não te consegui apanhar. Fugiste e eu não fui capaz de ir atrás de ti. Mas não importa, foi só um sonho mau, tu estás aqui e eu vou proteger - te sempre. Quando sair daqui a nossa vida vai mudar. Não vou voltar a tocar em nada, vou arranjar um trabalho, vou voltar a ter uma vida.
E vamos ser muito felizes, filho. Vamos, não vamos? Tu vais ajudar a mãe a ser uma pessoa melhor.
Vamos construir tudo de novo, vou dar-te o amor e o carinho que nunca tive.
(Mudando de atitude, olhando para um dos lados do palco, como se estivesse a ver alguém, fala de forma a ganhar uma personalidade agressiva)
O que é que tás aqui a fazer? Vai-te embora, vai, desaparece da minha vida...
(Agarrando na cadeira ameaçando a personagem imaginária)
Vens roubar o meu filho outra vez? Não vou deixar, vou enfrentar-te cara a cara. Matei-te uma vez, matar-te-ei quantas vezes forem precisas, mas o meu filho não mo vais tirar.
Lembras-te? Quando eu te disse que estava grávida, eu estava tão feliz. E tu?
Tu nem quiseste saber, mandaste-me para a má vida e quando te disse que não ia, bateste-me porco.
Um dia, tavas tão passado, que tiveste a lata de me dizer que eu tinha que abortar.
O quê? É que nem penses, respondi eu, se não queres este filho, eu quero, é a minha razão de viver.
Nessa noite quando estavas a dormir, nem deste conta, sufoquei-te até à morte e não me arrependo de nada, fazia-o de novo, quantas vezes...
(Ouvem-se do lado de fora do palco baterem na parede e gritarem)
Vozes – Cala-te ó xanfrada, o pessoal quer dormir...
Gaja, vê lá se te calas, se não vamos ai e cortamos-te o pio...
(Guarda entra e pergunta-lhe)
Guarda – Então, hoje não se dorme?
Presa 1 – Ele está ali, veio cá para levar o meu filho. Tás a vê-lo? Ali, encostado à parede...
Guarda – Está descansada que ele vai-se já embora.
(Guarda dirige-se quase à boca de palco e faz de conta que está a falar com alguém)
Ó rapazinho, vá, põe-te na alheta. A andar daqui para fora. Vá lá...
Vês como ele é obediente, já foi...
Presa 1 – Ele ainda tá ali à porta a rir-se de mim.
Guarda – Não ouviste o que eu te disse? Lá para fora....
Agora nós, o que é que se passa hoje? Não consegues dormir?
(Presa 1 vai - se sentar na cama abraçada aos joelhos, balançando o corpo. Guarda fica de pé a ver)
Presa 1 – Eu quero dormir, mas a minha cabeça não me deixa... Tenho tudo misturado cá dentro. Sinto-me angustiada...
Guarda - É normal, estás a viver um momento de grande pressão. Mas tens de te acalmar, isso não faz bem nenhum ao teu bebé. Ou queres que ele já venha para ai a berrar que nem um bezerro. Vá lá, tens que descansar...
(Guarda senta-se na cama, fazendo com que a Presa 1 se deite no seu colo)
Eu fico aqui até tu adormeceres...
Presa 1 – Tu tens filhos?
Guarda – Tive, uma filha... mas morreu. Devia ter agora seis anos, mas morreu... a minha filha morreu.
Presa 1 – Contas-me uma história?
(Guarda assentindo com a cabeça, faz-lhe festas no cabelo e conta-lhe a história)
Guarda – Era uma vez uma pequena sereia, tinha os olhos azuis, profundos como o mar, o seu cabelo era um emaranhado de algas que soltavam um perfume suave, único. Quando nasceu parecia um pequeno botão que aos poucos foi desabrochando. O mundo foi-se apresentando a ela, a vida foi-se renovando a cada dia que passava. As cores do arco-íris eram ainda mais intensas no fundo do mar. Até que chegou um dia em que o ciclo de vida se fechou, as cores já não eram vivas, mas sim sombrias, o sorriso da menina foi-se apagando, até que um dia desapareceu por completo. Um eco profundo invadiu o fundo do mar, deixando todos quantos lá viviam tristes com a partida da menina....
(Presa 1, acaba por adormecer, guarda continua a contar a história acaba por adormecer. Luzes baixam ficando o palco quase na escuridão.
Luzes voltam a acender e a Presa 2 entra em cena, gozando com a situação)
A personagem principal (presa 1), é uma adolescente (mãe solteira), toxicodependente, presa por acusação de homicidio e com problemas de esquizofrenia (relacionadas com o consumo de droga).
A Guarda prisonal é uma mulher amargurada pela perca da filha, de ressentimentos guardados e algo bruta.
A presa 2 é uma mulher paranoica com a sua condiçaõ de prisioneira, quer controlar tudo e todos.
A advogada é meia-irmã da personagem presa 1, apesar de ser advogda de defesa faz de tudo para arruinar a vida da irmã, a mando do pai.
Esta peça retrata algumas situações bastante reais, como a inveja, a toxicodependência, a gravidez na adolescência, entre outras situações.
"Presa 1 – Estive a sonhar com o sol, com as nuvens, elas pareciam algodão doce. Vi-te correr para mim, tinhas tantos caracóis... e eu afagava-te o cabelo. Tu sorrias, depois fugiste e eu corri atrás de ti, mas já não te consegui apanhar. Fugiste e eu não fui capaz de ir atrás de ti. Mas não importa, foi só um sonho mau, tu estás aqui e eu vou proteger - te sempre. Quando sair daqui a nossa vida vai mudar. Não vou voltar a tocar em nada, vou arranjar um trabalho, vou voltar a ter uma vida.
E vamos ser muito felizes, filho. Vamos, não vamos? Tu vais ajudar a mãe a ser uma pessoa melhor.
Vamos construir tudo de novo, vou dar-te o amor e o carinho que nunca tive.
(Mudando de atitude, olhando para um dos lados do palco, como se estivesse a ver alguém, fala de forma a ganhar uma personalidade agressiva)
O que é que tás aqui a fazer? Vai-te embora, vai, desaparece da minha vida...
(Agarrando na cadeira ameaçando a personagem imaginária)
Vens roubar o meu filho outra vez? Não vou deixar, vou enfrentar-te cara a cara. Matei-te uma vez, matar-te-ei quantas vezes forem precisas, mas o meu filho não mo vais tirar.
Lembras-te? Quando eu te disse que estava grávida, eu estava tão feliz. E tu?
Tu nem quiseste saber, mandaste-me para a má vida e quando te disse que não ia, bateste-me porco.
Um dia, tavas tão passado, que tiveste a lata de me dizer que eu tinha que abortar.
O quê? É que nem penses, respondi eu, se não queres este filho, eu quero, é a minha razão de viver.
Nessa noite quando estavas a dormir, nem deste conta, sufoquei-te até à morte e não me arrependo de nada, fazia-o de novo, quantas vezes...
(Ouvem-se do lado de fora do palco baterem na parede e gritarem)
Vozes – Cala-te ó xanfrada, o pessoal quer dormir...
Gaja, vê lá se te calas, se não vamos ai e cortamos-te o pio...
(Guarda entra e pergunta-lhe)
Guarda – Então, hoje não se dorme?
Presa 1 – Ele está ali, veio cá para levar o meu filho. Tás a vê-lo? Ali, encostado à parede...
Guarda – Está descansada que ele vai-se já embora.
(Guarda dirige-se quase à boca de palco e faz de conta que está a falar com alguém)
Ó rapazinho, vá, põe-te na alheta. A andar daqui para fora. Vá lá...
Vês como ele é obediente, já foi...
Presa 1 – Ele ainda tá ali à porta a rir-se de mim.
Guarda – Não ouviste o que eu te disse? Lá para fora....
Agora nós, o que é que se passa hoje? Não consegues dormir?
(Presa 1 vai - se sentar na cama abraçada aos joelhos, balançando o corpo. Guarda fica de pé a ver)
Presa 1 – Eu quero dormir, mas a minha cabeça não me deixa... Tenho tudo misturado cá dentro. Sinto-me angustiada...
Guarda - É normal, estás a viver um momento de grande pressão. Mas tens de te acalmar, isso não faz bem nenhum ao teu bebé. Ou queres que ele já venha para ai a berrar que nem um bezerro. Vá lá, tens que descansar...
(Guarda senta-se na cama, fazendo com que a Presa 1 se deite no seu colo)
Eu fico aqui até tu adormeceres...
Presa 1 – Tu tens filhos?
Guarda – Tive, uma filha... mas morreu. Devia ter agora seis anos, mas morreu... a minha filha morreu.
Presa 1 – Contas-me uma história?
(Guarda assentindo com a cabeça, faz-lhe festas no cabelo e conta-lhe a história)
Guarda – Era uma vez uma pequena sereia, tinha os olhos azuis, profundos como o mar, o seu cabelo era um emaranhado de algas que soltavam um perfume suave, único. Quando nasceu parecia um pequeno botão que aos poucos foi desabrochando. O mundo foi-se apresentando a ela, a vida foi-se renovando a cada dia que passava. As cores do arco-íris eram ainda mais intensas no fundo do mar. Até que chegou um dia em que o ciclo de vida se fechou, as cores já não eram vivas, mas sim sombrias, o sorriso da menina foi-se apagando, até que um dia desapareceu por completo. Um eco profundo invadiu o fundo do mar, deixando todos quantos lá viviam tristes com a partida da menina....
(Presa 1, acaba por adormecer, guarda continua a contar a história acaba por adormecer. Luzes baixam ficando o palco quase na escuridão.
Luzes voltam a acender e a Presa 2 entra em cena, gozando com a situação)
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